Pinheiro de 11 metros de altura, chichá de 200 anos: conheça algumas das mais de 300 árvores que caíram em tempestade em SP
Nesta quinta (13), o g1 percorreu alguns pontos da cidade para ver de perto os prejuízos sofridos pela flora urbana e conversou com o especialista em botânica...

Nesta quinta (13), o g1 percorreu alguns pontos da cidade para ver de perto os prejuízos sofridos pela flora urbana e conversou com o especialista em botânica Ricardo Cardim, que deu detalhes sobre algumas das espécies caídas. Árvore caída na rua Caiubi, na Zona Oeste de SP Renata Bitar/g1 A cidade de São Paulo perdeu cerca de 330 árvores durante o temporal que atingiu a capital nesta quarta-feira (12), segundo contagem da prefeitura. Árvores de diversos tamanhos, espécies, idades e localizadas em diversas regiões. Tudo isso aconteceu no mesmo dia em que o município recebeu um prêmio da ONU de preservação adequada e manejo sustentável de árvores e florestas urbanas do município. Nesta quinta (13), o g1 percorreu alguns pontos da cidade para ver de perto os prejuízos da flora urbana e conversou com o especialista em botânica Ricardo Cardim, que deu detalhes sobre algumas das árvores caídas. Pinheiro da Faculdade de Medicina da USP Parte de árvore caída em frente ao prédio da FMUSP Renata Bitar/g1 Segundo informações da assessoria da Faculdade de Medicina da USP, (FMUSP) a árvore que foi afetada e teve parte arrancada com a força do vento na Avenida Doutor Arnaldo, em frente ao prédio da faculdade, é um pinheiro, uma Pinus taeda com cerca de 40 anos, mais de 11 metros de altura e 44 centímetros de diâmetro. Como resultado, um grande pedaço de tronco, com diversos galhos, ficou caído sobre a fiação. As folhas pontiagudas ficaram espalhadas pelo chão. Os galhos pareciam ter sido cortados pela força do vento. Já a raiz permaneceu em seu lugar, com a inclinação habitual. Enquanto funcionários terceirizados da prefeitura trabalhavam para cortar e triturar os galhos, a fim de facilitar o transporte, o aroma característico da planta emanava – uma essência que remete a produto de limpeza e desinfetante. Uma imagem aérea da região, cedida pelo Museu Histórico da FMUSP, mostra que o local já era arborizado na década de 1960: Imagem aérea da região da Faculdade de Medicina da USP, no Centro de SP Arquivo/Museu Histórico da FMUSP Clovis, zelador da faculdade, contou que ao cair, a Pinus atingiu uma Sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), árvore nativa da Mata Atlântica, quebrando parte de seu tronco também. Segundo o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, o Pinus taeda mostrou excelente adaptação no sul do país, principalmente nos Estados do Paraná e Santa Catarina. Ao lado do Pinus elliottii, está sendo largamente utilizado no reflorestamento e com o objetivo da produção de fibras longas em substituição à Araucária angustifolia. Galerias Relacionadas 3ª mais antiga de SP Uma das árvores perdidas foi um chichá bicentenário: localizada no Largo do Arouche, no Centro, a espécie nativa da Mata Atlântica pode alcançar grandes dimensões e é usada em reflorestamento. Ela tinha 30 metros de altura e era a terceira mais antiga de São Paulo. Terceira árvore mais antiga de SP Reprodução "Quebrou como um palito… Poucos meses atrás fizemos um vídeo aqui mostrando o descaso com a terceira árvore mais antiga da cidade de São Paulo. Ele não resistiu à falta de cuidados somados ao evento climático extremo de hoje a tarde. De quem é a culpa? Do descaso histórico da prefeitura com a arborização urbana, com o patrimônio histórico, das ilhas de calor planejadas que geram mudanças climáticas? Um importante sintoma do que estamos vivendo…", apontou Ricardo Cardim. Ficus benjamina na rua Caiubi, Zona Oeste Árvore caída na rua Caiubí, na Zona Oeste de SP Renata Bitar/g1 Cardim explicou que a árvore da imagem acima é uma Ficus benjamina, uma espécie asiática que, a princípio, é usada em floricultura para decoração de vasos. No entanto, o especialista aponta que a presença massiva dela na cidade é uma prova de que a prefeitura não fiscaliza a plantação de árvores. "As pessoas, o cidadão, acaba plantando na calçada. É uma espécie completamente errada para a calçada, porque ela tem uma madeira muito fraca, um sistema radicular muito agressivo e inadequado, e elas caem a torto e a direito. É uma espécie que prova a falta de manutenção das árvores de fiscalização na cidade de São Paulo", afirmou. No exemplo da rua Caiubi, em Perdizes, na Zona Oeste, foi possível ver raízes laterais driblando a calçada, como se estivessem buscando mais espaço. A raiz principal da árvore, que tem a função de fixar a planta no solo, se soltou, levou junto pedaços de pedra e de calçada. O tamanho da base chamou muito a atenção, com um diâmetro maior do que a altura de uma pessoa. O tronco alto cruzou a rua, atingindo a calçada e a fiação do outro lado. A copa cheia de folhas caiu em direção a um condomínio, bloqueando a entrada principal. Para acessar o local, alguns moradores separavam os galhos repletos de folhas e passavam entre eles, como se estivessem numa área de mata. Galerias Relacionadas Ipê rosa ao lado do Mackenzie Ipê caído ao lado da Universidade Mackenzie, reigão central de SP Renata Bitar/g1 Na calçada da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na rua Maria Antônia, região central da capital, a árvore caída dividia espaço com pedestres e veículos. Parte de sua raiz permaneceu fincada no solo, ainda que torta. O tronco parecia ter sido arrancado devido à força, com a madeira “desfiada”. Blocos de concreto que cercavam a planta foram arrancados em partes, danificando a calçada. Segundo Ricardo Cardim, trata-se de um ipê rosa de El Salvador com cerca de 20 anos. "É um ipê exótico, que tem uma madeira mais fraca do que o ipê brasileiro. Ela quebrou na base com a raiz junto, né? Então, certamente foi a força do vento, mas também pode ter sido pela falta de qualidade do solo e o enraizamento adequado da espécie", disse. "Uma coisa muito comum em São Paulo é você ter o solo muito compactado, infértil, que impede a propagação das raízes e devida fixação da árvore", destacou o botânico. Galerias Relacionadas Por que tantas árvores caem em São Paulo? Sempre que chove em São Paulo, muitas árvores caem. No caso da última tempestade, foram cerca de 330. Para especialistas, mais do que uma fatalidade, este cenário é um problema histórico, consequência de uma soma de fatores, e que atravessa várias gestões da Prefeitura de São Paulo e de outras prefeituras da região metropolitana. Veja os principais: Calçadas estreitas para árvores grandes; Árvores "doentes", com cupins ou fungos; Podas mal realizadas; Falta de acompanhamento da flora da cidade; Ventos e chuvas fortes. Quedas de árvores e imóveis sem luz em SP Arquivo pessoal Para o pesquisador do Laboratório de Árvores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Sergio Brazolin, em entrevista ao g1 em novembro de 2020, o problema começou no início da arborização da cidade, 70, 80 anos atrás, sem planejamento entre o tamanho e espécie da árvore e a calçada que a abrigaria. "É muito comum andar pela cidade e ver árvores enormes, de 15, 20 metros de altura, com calçadas pequenas. É uma gigante de pé pequeno", aponta Brazolin. Hoje, os novos plantios seguem as regras estabelecidas pelo Manual Técnico de Arborização Urbana, da Prefeitura de São Paulo, desenvolvido para evitar tais discrepâncias. O biólogo também lembrou que as árvores são seres vivos. Logo, também ficam doentes: "Cupins, apodrecimento, o que é natural de um ser vivo adulto que está ficando velhinho. Quando acontecem esses problemas na árvore, associado ao peso dela, elas vão se fragilizando na sua base". Brazolin aponta que a manutenção, com o olhar periódico de um especialista, é uma das questões principais. "Às vezes ela está bonita por fora mas por dentro está oca. Esse manejo é essencial em qualquer cidade". Árvores e fiações caídas após forte tempestade que deixou moradores de diversas regiões da cidade de São Paulo sem luz, neste sábado (04). RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Árvore de grande porte cai em cima de carro na Avenida Paulista em novembro de 2020 Abraão Cruz/TV Globo Outro fator apontado são as podas mal feitas, que podem desequilibrar a árvore, deixando um lado muito mais pesado que o outro. Os cortes também devem ser feitos nos galhos menores. Quando feito nos grandes, podem causar o alojamento de cupins ou apodrecimento. Para o botânico e paisagista Ricardo Cardim, também em entrevista em 2020, a fiação elétrica é uma das grandes vilãs das árvores da cidade. "A fiação elétrica aérea leva a mutilação de grande parte da floresta urbana em São Paulo", afirma Cardim. O paisagista defende que a fiação deveria ser enterrada. Até hoje, poucos quilômetros, dos mais de 17 mil de cabos que a cidade têm, são enterrados, como a Avenida Paulista e a região do Museu do Ipiranga. Quando a isso se somam ventos fortes fortes e chuvas intensas, o resultado, segundo ele, pode ser fatal. "Todo verão vemos uma série de problemas com arborização na cidade e tragédias horrorosas como essa por causa de falta de cuidado", afirma Cardim. "O que acontece é que até hoje parece que o poder público, principalmente o executivo, não entendeu que as áreas verdes de São Paulo são essenciais para a qualidade de vida e saúde da população e precisam de investimentos à altura", disse o botânico e paisagista. Segundo Cardim, em várias gestões se promete fazer um levantamento detalhado das árvores da cidade, quais, quantas são e onde estão, o que ainda não foi realizado. "O raciocínio é simples, como você vai cuidar de algo que não sabe quantas são e qual o estado?" Para os especialistas, não é necessário remover as árvores grandes da cidade, essenciais para a qualidade do ar e para a saúde da população. A solução passa também pelo manejo eficiente dessa população arbórea. Uma das técnicas utilizadas é podar a copa de forma que ela deixe o vento fluir e não atue como um "paredão". O pedido de solicitação de poda na Prefeitura pode ser feito pelo número 156 ou pelo aplicativo 156 da administração municipal.